A ONU alertou, esta quinta-feira, para a redução dos financiamentos para a adaptação às alterações climáticas, que diminuem em vez de aumentar, e considerou que as necessidades são 10 a 18 vezes superiores aos valores atuais.
O alerta faz parte de um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), divulgado esta quinta-feira, no qual se diz que os custos da adaptação aos efeitos das alterações climáticas podem chegar aos 387 mil milhões de dólares por ano.
A agência da Organização das Nações Unidas (ONU) fala de investimento e planeamento desadequados e que tal deixa o mundo exposto às alterações climáticas.
O défice de financiamento à adaptação está a aumentar e situa-se entre os 194 e os 366 mil milhões de dólares por ano, diz o PNUMA no documento.
No documento alerta-se também que as necessidades de financiamento da adaptação às alterações climática são pelo menos 50% acima do que fora estimado anteriormente.
O relatório alerta que só acelerando a adaptação se acompanha os riscos que a população, a natureza e as economias correm, e calcula que os fundos necessários para a adaptação deviam ser de um valor entre os 215 e os 387 mil milhões de dólares por ano, nesta década.
Estas necessidades de financiamento são “10 a 18 vezes maiores que as finanças públicas internacionais actualmente destinadas à adaptação climática nos países em desenvolvimento”, segundo o documento, no qual se diz também que apesar das necessidades crescentes, “os fluxos multilaterais e bilaterais de financiamento para adaptação diminuíram 15%” em 2021, para 21,3 mil milhões de dólares. Entre 2018 e 2020 estavam nos 25,2 mil milhões.
No relatório, publicado no mesmo mês em que se realiza no Dubai a 28.ª reunião da ONU sobre o clima, a COP28, a ONU, pela voz do secretário-geral, António Guterres, avisa que a acção para proteger as pessoas e a natureza é mais urgente do que nunca e que são os mais vulneráveis quem mais está a sofrer.
Inger Andersen, directora executiva do PNUMA, lembra citada no relatório que este ano as mudanças climáticas se tornaram ainda mais disruptivas e mortais, com novos recordes de temperaturas, mais tempestades e ondas de calor, mostrando que o mundo deve acabar urgentemente com as emissões de gases com efeito de estufa.
“A actual acção climática é lamentavelmente inadequada para cumprir os objectivos de temperatura e adaptação do Acordo de Paris”, reafirma a agência da ONU.
E acrescenta que embora as temperaturas médias globais já estejam a exceder 1,1°C acima dos níveis pré-industriais, os planos atuais reflectidos nos contributos determinados a nível nacional (NDC, na sigla original, a contribuição de cada país para reduzi as emissões) estão a colocar o mundo na via dos 2,4°C-2,6°C até ao final do século.
E mesmo que sejam alcançados os objectivos do Acordo de Paris, de contenção do aumento das temperaturas, os riscos climáticos continuam, avisa-se no documento, no qual se conclui que é fundamental aumentar as acções de adaptação e mitigação, sendo que um em cada seis países ainda não dispõe de um instrumento nacional de planeamento da adaptação.
O PNUMA cita estudos para dizer que 16 mil milhões de dólares investidos na agricultura por ano evitariam que cerca de 78 milhões de pessoas passassem fome ou fome crónica devido dos impactes das alterações climáticas em que cada mil milhões de dólares investidos na adaptação contra as inundações costeiras conduzem a uma redução de 14 mil milhões de dólares de redução dos prejuízos económicos. (BIS-NM)