Um dos animais mais icónicos da época natalícia, responsável por puxar o trenó do Pai Natal, pode, afinal, ter também vantagens do ponto de vista ambiental.
Podem as renas ser úteis na luta contra as alterações climáticas? Estudos mostram que, aparentemente, sim.
Segundo a BBC, os animais podem ter um importante papel na manutenção dos habitats no norte da Finlândia, ao controlar a densidade e a altura de vegetação que, caso se mantivesse intacta, levaria a uma menor refletividade da neve e do gelo e, consequentemente, a um maior aumento das temperaturas à superfície.
As renas podem, então, desempenhar um papel fundamental na preservação dos ecossistemas, onde as temperaturas descem bem abaixo dos 0ºC e a neve chega a ter 20 centímetros de profundidade. Ecossistemas estes que incluem a floresta aberta, com arbustos de frutos silvestres de baixo crescimento, musgos e líquenes, um organismo que é formado por estreita associação de fungos e algas, e até mesmo o clima frio que é típico do inverno.
O Árctico, conta a BBC, está a aquecer a uma velocidade quatro vezes superior ao resto do mundo, mas as renas, aparentemente, podem ajudar a contrariar este efeito, evitando a chamada “arbustificação” em excesso – o crescimento de plantas mais altas e lenhosas, que ocorre à medida que uma paisagem aberta se transforma gradualmente em floresta.
Acontece, no entanto, que, no caso do Árctico, a cobertura de arbustos e floresta pode acabar com o seu ecossistema mais tradicional, associado a florestas abertas, conhecidas como florestas boreais, e às tundras árcticas sem árvores. Estes arbustos, caso cresçam em demasia, podem também piorar o impacto das alterações climáticas, já que podem reter o calor que descongela o ‘permafrost’, aquecendo mais a superfície.
Assim, as renas podem ter um efeito apaziguador, ao comer e destruir as plantas, limitando o seu crescimento. A BBC cita, aliás, um estudo que analisou imagens de satélite da cobertura arbustiva na Península de Yamal, no noroeste da Sibéria, e descobriu que a vegetação na área permaneceu estável nos locais onde houve um aumento de 75% na população de renas, entre 1986 e 2016, apesar do aumento das temperaturas no verão.
Os autores do estudo concluíram que a presença das renas permitiu compensar os efeitos das alterações climáticas, ajudando a preservar o habitat da tundra.
“As renas comem líquenes e outras plantas. Também as pisam e garantem que a vegetação não seja muito densa, e isso mantém o solo mais frio. A vegetação espessa no solo reteria muito calor. Se não houver folhas e relva, o solo fica mais congelado e congela no início do inverno”, disse à BBC Tiia Jeremejeff, criadora de renas.
Já Tiina Sanila-Aikio, também ela criadora destes animais, explicou: “A floresta aqui é bastante aberta e ampla. Isso é por causa das renas. Se não as tivéssemos, a visão seria totalmente diferente. À medida que a temperatura sobe, tudo cresce muito mais rápido. Precisamos de renas para manter a floresta aberta”.
Outros estudos citados pela BBC mostram ainda que a presença das renas pode ser benéfica, no sentido em que a libertação de dióxido de carbono pode ser menor, já que, com menos arbustos, há menos biomassa a decompor-se. Também se teoriza que o efeito ‘albedo’, ou seja, a capacidade da neve e do gelo reflectirem calor, está a ser influenciado pela presença de renas, no sentido em que há estudos que sugerem que os arbustos aceleram o derretimento da neve, gerando mais calor à superfície.
Ao remover estes arbustos, então, as renas estarão a ajudar a desacelerar o derretimento da neve, preservando a sua presença e o seu papel na reflexão da luz solar. (RM-NM)