Notícias

Especialista destaca contradições da China, líder em renováveis e no carvão

Um especialista em alterações climáticas apontou, em entrevista à Lusa, que a China, maior emissor mundial de gases poluentes, apresenta contradições na conferência do clima COP28, à medida que continua a expandir o consumo de carvão e a capacidade instalada em renováveis.

“Há sinais contraditórios”, reconheceu Renato Roldão, especialista português em alterações climáticas a viver em Pequim desde 2008 e actual vice-presidente da consultora norte-americana Inner City Fund (ICF) para a China e Europa.

https://fb1f4731ca447bc59d479405b96e8834.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-40/html/container.html Em entrevista à agência Lusa, Roldão notou que a “trajectória é de subida e não de descida” no consumo do carvão, apesar de o país asiático estar a expandir a “grande velocidade” a capacidade instalada de energia solar e eólica.

“Uma das justificações neste momento e que, em parte, depois choca com os objectivos climáticos, é a questão da insegurança energética”, observou.

O Presidente chinês, Xi Jinping, delineou, em 2020, os compromissos chineses para o clima: neutralidade carbónica “antes de 2060” e atingir o pico das emissões “antes de 2030”. Mas os anos seguintes ficaram marcados por cortes de energia que obrigaram ao racionamento em várias províncias importantes.

Um relatório do Centro de Investigação sobre Energia Limpa e Ar (CREA) mostrou que, em 2022 e 2023, a China continuou a acelerar “significativamente” a aprovação de licenças para centrais a carvão, após ter tido problemas de abastecimento.

A China é já o maior emissor mundial de gases com efeito de estufa. Quase dois terços da energia consumida no país assentam na queima daquele combustível fóssil altamente poluente.

Renato Roldão apontou, no entanto, que o país está também a investir e instalar nova capacidade de renováveis a “grande velocidade”.

Entre Janeiro e Setembro, a China acrescentou 129 gigawatts de capacidade instalada de energia solar, um aumento de 145%, face ao mesmo período do ano anterior. Em 2022, o país asiático acrescentou tanta capacidade instalada de energia eólica e solar quanto todos os outros países do mundo combinados.

“No fundo, há sinais mistos: a China, ao mesmo tempo que investe em carvão, está a acrescentar muita capacidade instalada nas energias renováveis e a investir mais em eficiência energética”, afirmou o especialista.

Durante uma visita à China, realizada em Setembro passado, o Comissário Europeu para o Ambiente, Virginijus Sinkevicius, apelou a “mais esforços” para atingir o objectivo de zero emissões líquidas até 2050, dez anos antes da data fixada por Pequim.

Mas a China, que sofreu nos últimos anos com fenómenos climáticos extremos, tem a sua própria agenda e os especialistas não acreditam que vá mudar por pressão externa.

“A China assume a sua responsabilidade e cumpre os seus objectivos. Mas é um país enorme, em crescimento, com grande ‘apetite’ por energia. Se uma data foi decidida politicamente é difícil alterá-la sem razão convincente”, lembrou recentemente Zhang Yongxiang, académico do Centro Nacional do Clima da Administração Meteorológica da China.

Observando que o país pode atingir as suas metas antes da data prevista, Renato Roldão lembrou que apesar de a China não aderir de imediato a declarações e acordos internacionais, faz o seu “trabalho de casa” e “quando se sente preparada de facto para avançar anuncia os objectivos”.

A conferência no Dubai coincide com um clima geopolítico tenso, marcado por crescentes fricções entre Pequim e vários países ocidentais.

O contexto pode dificultar as negociações do fundo de “perdas e danos”, destinado a compensar os países em desenvolvimento pelos impactos inevitáveis das alterações climáticas.

A China, que critica frequentemente o que considera ser o “incumprimento dos países ricos” em matéria de clima e defende o princípio das “responsabilidades comuns mas diferenciadas”, deve reiterar no Dubai que são os países desenvolvidos que têm de “cumprir os seus compromissos com o fundo climático”.

“Uma das questões é se a China vai beneficiar ou contribuir para esse fundo”, observou Roldão. “Há quem defenda que a China deve contribuir financeiramente, mas, por outro lado, fenómenos climáticos extremos também ocorrem dentro da China, que é um país muito diferente ao longo do seu território e tem zonas de grande vulnerabilidade”, observou. (RM-NM)

Deixe um comentário